segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

[Opinião Séries] 3%


3%


Em 2016 a Netflix Brasil estreou-se na produção de séries e lançou "3%", uma série que obviamente me despertou a curiosidade não só pela temática mas também por ser, como é óbvio, por brasileiros. Bem, a temática na realidade não é propriamente inovadora, é só mais um achega num tema que está mais do que explorado. Uma distopia, a sociedade dividida entre pobres e ricos, uma revolução... é, algo que nunca vimos. Mas a verdade é que eu gosto desses temas, e se a série for bem feita, porque não ver? "3%" é então uma série distópica em que a sociedade está dividida entre aqueles que vivem bem e os que vivem terrivelmente mal. No entanto, quando completam 20 anos todas as pessoas podem-se candidatar ao Processo, algo que lhes poderá permitir passar para o Mar Alto, onde poderão ter condições de vida melhores. No entanto, apenas 3% dos candidatos conseguem esse feito, sendo que a escolha é feita através de provas em que vale quase tudo.


A ideia base da série é interessante, mas a execução fica bastante aquém. No entanto, a série consegue ter aquela particularidade de entusiasmar quem vê, especialmente devido às provas, provocando aquela curiosidade sobre o que irá acontecer. Se uma pessoa fechar os olhos a tudo de errado que vê - e por vezes custa - é interessante acompanhar o desenvolvimento da história e a progressão dos candidatos ao longo da história. No entanto, e como disse, há várias coisas que estão mal. Comecemos pelos actores. Não há um único actor que eu possa dizer "nossa, fez uma prestação formidável". Não há, simplesmente. Há os que fazem o que lhes compete e há os que são maus, sendo que estes últimos são grande parte do bolo. Na maior parte do tempo sinto que eles estão apenas a debitar texto, sem qualquer espécie de emoção, sem passar nada para o telespectador. Existem ainda erros grotescos de roteiro, que se notam ainda mais quando as personagens parece que se tornam bipolares. Se agora elas eram isto e queriam fazer isto, cinco minutos depois elas já são e querem fazer o oposto. Juro que em alguns momentos eu simplesmente não percebi o que aconteceu. No entanto, para salvar um pouco a situação, vai havendo aqui e ali um plot twist que dá vontade de continuar a ver, o que foi basicamente o que fez com que eu chegasse ao fim tão depressa.


Em relação aos personagens, existiam alguns que realmente tinham bastante potencial. Rafael foi o que me conquistou logo de início. Para além de o actor que o representa ser consideravelmente um dos melhores da série, a personagem era bastante misteriosa, para além de parecer ser o bad boy com os objectivos certos. É também provavelmente o personagem mais consistente e mais focado, aquele que desde o início fez o que tinha a fazer e o seu progresso fez sentido tendo em conta a sua personalidade. Joana foi outra personagem que também me aguçou a curiosidade, por estar nem aí, o que fazia também dela um mistério. Mas depois de reveladas as suas motivações facilmente percebemos que a sua atitude de "não quero saber" não faz sentido nenhum, porque ela devia querer saber e muito, já que não passar no Processo podia ser terrível para ela. Fernando foi também outra personagem interessante, na perspectiva em que mostrou que a incapacidade física não tem relevância quando se quer realmente alguma coisa e que com o apoio das pessoas certas é possível fazer as coisas. Michele também podia ter sido uma personagem interessante, mas a criatura é tão sem sal que simplesmente não consegui gostar. No entanto, sinto que o que fizeram com a maior parte das personagens foi um crime. Não entendo o que aconteceu, quem foi o mentecapto que escreveu aquele culminar sem sentido nenhum da Joana e do Fernando. Compreendo que talvez seja necessário para o que irá acontecer no futuro da série, mas por favor... coerência pede-se. O Fernando que fui conhecendo não faria aquilo e o que aconteceu com a Joana foi só estúpido. Por outro lado, Ezequiel foi para mim a personagem mais intragável de todas. O actor era péssimo, a personagem era estúpida e ainda fizeram um episódio só sobre ele para ver se eu me compadecia... não, não resultou, ele continuou a ser para mim um idiota. Espero sinceramente que as teorias que andam por aí sobre ele não sejam verdade, porque se forem eu vou passar a odiar a série.


Em suma, "3%" é uma série que se vê bastante bem, mas que obriga a colocar de lado o sentido crítico afiado se queremos realmente chegar ao fim. Vou ver a segunda temporada, mas admito que tenho um bocado de medo daquilo que vão fazer. Na realidade, acho só que vai ser um "Hunger Games - A Revolta" de má qualidade, portanto nem vou com as expectativas muito altas. No entanto, é bom ver a Netflix a apostar noutros países e noutras línguas (a série é falada em português do Brasil, como é óbvio), abrindo assim horizontes e mostrando que o talento não está só no Reino Unido e nos Estados Unidos. Quer dizer, neste caso não mostrou propriamente o talento, mas estamos só a começar, não é verdade? Esperemos que a plataforma continue a apostar no Brasil e noutros países e possa trazer mais cultura e claro, mais séries de qualidade.

Vejam o trailer!

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